Professor, nem vítima, nem culpado: sujeito!

  (Parte 1)

Outro dia um aluno meu me perguntou o que mudou nesses nove anos de docência, e disse à ele que sem dúvida me sinto uma professora um pouco melhor que antes. Sou professora de escola pública. Já vivi muitas situações e um tanto delas não gostaria de relembrar. Se já quis jogar a toalha? Nossa! muitas vezes: "prefiro vender pastel do que ficar louca na educação", disse muitas vezes. Lecionar não é tarefa fácil, principalmente num país em que se paga tão mal este profissional em extinção.

De uns quatro anos pra cá, porém, decidi não aceitar mais essa condição de vitima, e fazer frente à essa  situação de culpados que a mídia e os governos nos empregam. Me colocar na minha posição de sujeito histórico, provido de escolhas, ainda que essas escolhas estejam limitadas pelo sistema social em que vivemos, mas não abro mão de ser sujeito.

Se cobro dos meus alunos que reajam à barbárie social em que muitas vezes estão submetidos, tenho que resistir a ela também, e não me resignar a condição de vitima.

Se um dos grandes problemas que enfrentamos no âmbito da sala de aula é a violência, hoje tenho certeza que esta não será resolvida dentro da escola, porque vem de fora pra dentro. Penso que a escola tem que sair do isolamento, não como redentora da sociedade, mas como parte integrante e importante dela. Enfrentar a violência na sala de aula não nos cabe, até porque estamos completamente fragilizados com relação a isso, não faz parte da relação professor / aluno. Talvez o que nos caiba é discutir essa violência com nossos alunos, fazendo-os compreender como ela é socialmente construída. Trazer pais e mães para o nosso lado, construindo uma relação de parceria com estes. Entender que o problema é muito maior. Claro que não há fórmulas. Cada lugar, cada grupo, cada comunidade escolar terá que pensar como fazer, sem isentar o poder público do que lhe cabe!

Eu particularmente tenho vários incômodos com relação a educação. Sempre brinco com os alunos dizendo que daqui uns séculos quando forem estudar estas civilizações, os alunos do "futuro" vão se espantar ao comentarem como "eles estudavam de costas uns para os outros, olhando pra um negócio chamado lousa"!

O que nós professores queremos? Com certeza nada mais que todo mundo, só sermos um tanto felizes exercendo a profissão que escolhemos. Ter parceiros é a grande sacada, parceria com outros professores, mas principalmente parceria com meus alunos.

A educação é problema nosso! É nisso que acredito. Quem é esse "nosso"? Todos aqueles que se sentem incomodados com essa situação e mais que isso, que se sintam sujeitos desse processo.