Ninguém ensina o que não aprendeu!


Novembro, 10.

Quase uma década em escolas, e em relação à questão racial vi poucos avanços. Muitos “educadores” ainda conseguem dizer que não vêm necessidade em ter o Dia Nacional da Consciência Negra. Essa luta vai continuar por muito tempo ainda, e penso que a escola desempenha um papel muito importante, muito mais na figura e atitude de cada professor e professora do que como instituição. Sempre digo pros meus alunos, sem medo de errar, que ninguém ensina o que não aprendeu, que um professor racista não conseguirá ensinar seus alunos a não serem racistas, que um professor homofóbico, não ensinará o contrário. Nosso corpo, expressões, ações ensinam mais que nossas palavras. Não nos despimos do que somos quando adentramos a sala de aula. Somos referência, isso é um fato, influenciamos corações e mentes, queiramos ou não.

Compartilho a carinhosa homenagem do dia dos professores, que me deixou muito feliz: a professora de Inglês propôs aos alunos que montassem um painel com fotos de revistas. Eles deveriam recortar personalidades partindo de características que identificassem cada um de seus professores. Segundo o relato da professora Helena Mota, os alunos disseram que encontraram dificuldades, pois nas revistas brasileiras não haviam personalidades negras e muito menos orientais e, que por isso tiveram que improvisar.

Eis o painel:


Iniciativa da professora Helena de Inglês.


Quando me deparei com o painel, como todo mundo, fui procurar que personalidade eles haviam escolhido para mim. Com certa ansiedade fui de imagem em imagem, e eis que para minha surpresa eles escolheram para me representar a atriz Juliana Alves: mulher negra, linda com seu turbante nos cabelos, e um detalhe: bem alta!

Helena me disse: “nem preciso lhe falar porque eles escolheram esta foto, não é mesmo?”.

Me emocionei! E precisava mostrar o painel aos que não acreditaram quando contei. Digo pros meus alunos todos os dias, com segurança, que olho no espelho e sei quem eu sou.  

Nossa identidade, nossa etnia, vai além da cor imediata da nossa pele. Tenho a pele clara, tenho olhos verdes, e tenho espelho em casa, se quisesse me embranquecer, passaria como  pessoa branca, minhas raízes são a minha história, minha descendência e ancestralidade é a minha essência. 

A cor da pele, dos cabelos,  dos olhos, não escolhemos,  mas podemos escolher de que lado quero ficar nessa sociedade. Eu escolho todos os dias lutar por justiça e igualdade.