Se a relação professor aluno veio parar na internet, então também quero falar.


     A polêmica em torno da página da menina Isadora na rede social não me surpreende, gosto de alunos críticos,  aliás, me esforço para que meus alunos sejam assim, mas é importante contextualizar e compreender a visão de quem tem 13 anos, e faz parte da geração "Y".  De quem está aglomerado com centenas de outros jovens, por 5, 6, 7 horas por dia, em lugares, por vezes, nada adequados, com recursos nada interessantes.  Acreditamos realmente que eles vão gostar disso? Pra ser sincera nem eu gosto, mas não fui eu quem criou as regras, então vamos tentar pensar um pouco sobre isso.


   Pra mim, a conversa começa afirmando que professores e alunos estão no mesmo barco furado, apesar de parecer que estamos de lados opostos, somos face da mesma moeda. É preciso que se compreenda que a profissão de professor também é trabalho alienado na sociedade capitalista, os professores não são detentores dos meios que poderiam levar à uma mudança substancial na educação, aliás,  nós e nossos alunos somos os últimos a ser consultadosComo modificar a sociedade? Como modificar a escola? 



    A resposta para as duas perguntas é a mesma, pois a sociedade está dentro da escola e vice versa. Na escola temos todo tipo de situação: convivência com pessoas que não se escolhe, a violência, o desrespeito, a amizade, a afetividade, os preconceitos, a burocracia, as obrigações, as reclamações, a vontade, a preguiça, o individualismo, o consumismo, amor, e muita, muita impotência. Sem contar com os problemas de infraestrutura.

   
   Considero fundamental que alguns jovens estejam preocupados com toda essa situação, vários alunos meus também são muito preocupados, e com eles, fazemos discussões e tentamos pensar juntos o que fazer para amenizar os conflitos e melhorar o aprendizado. 

Existe uma visão deturpada no que diz respeito a relação professor / aluno, alguns idealizam, outros demonizam, o fato é que nós somos os adultos da situação e temos que avançar na reflexão, até por questão de saúde mental, embora, muitas vezes ultrapassamos nossos limites de seres humanos. Pra mim, lidar com violência não faz parte da relação professor / aluno. Uma coisa, é traquinagem, brincadeiras, agitação, outra coisa é violência, desrespeito gratuito, agressão sem precedentes, e isso acontece todos os dias, e, já perdi minhas estribeiras sim, quando fui desrespeitada por alguém que acreditava ser meu aluno, porque esta situação não é parte da relação professor / aluno de jeito nenhum. 

Costumo tentar fazer meus alunos me verem como sou, uma trabalhadora, digo sempre à eles que, como seus pais, trabalho para pagar minhas contas, cuidar da família, estudar, realizar sonhos (se é que isso é possível). Enfim, mostrar que somos iguais,  parceiros, e que o dia a dia na escola pode ser bem mais "tranquilo", mas quando o jovem está submerso em outras situações para além dos muros da escola, não há muito o que fazer, deixemos de hipocrisia, pois ao longo desses 10 anos, tivemos vários velórios, licenças e exonerações, e a imprensa e os especialistas, que só cacetam, esses deuses sabedores de tudo, não estavam lá. Só quem já sofreu uma ameça durante a prática do seu trabalho sabe do que estou falando. Várias coisas me incomodam neste modelo escolar, mas lidar com a violência me incomoda muito mais.

      É um debate muito importante, e é bom que ele comece, eu me recuso a ser vitima, quero ser sujeito histórico de mudanças, junto com meus alunos, somos os protagonistas. Em 10 anos de profissão, sempre me debrucei em reflexões e mais reflexões sobre as questões do cotidiano escolar. A questão é totalmente inconclusa, pois faz-se necessário entender a sociedade capitalista contemporânea, e o modelo de escola construído para atender esta sociedade. Ao analisar as relações na escola, e, principalmente na escola pública, sem levar em consideração as questões que envolvem a luta de classes, corremos o risco de ficar na aparência, no superficial, e pior ainda, não sair da inércia.

Isadora, bem vinda ao clube dos inconformados, estamos do mesmo lado.