Ser professor e pensar educação é a mesma coisa?
Há tempos me coloco essa discussão do título, se
o fato de ser professora me obrigaria a pensar educação, ou seja, o sistema
educacional, as práticas, a licenciatura, e tudo o que envolve a educação de
forma mais abrangente. Pra mim, a resposta é SIM!
Completei 10 anos de educação pública, cinco deles, trabalhando,
concomitantemente, na Prefeitura de São Paulo e na rede SESI-SP, duas grandes
redes educacionais, com grandes potenciais pra se tornarem referência em
educação no país, pois possuem um alto investimento financeiro. Esta situação, além de me exaurir fisicamente, me fez pensar sobre
as questões educacionais brasileiras. Sendo assim, preciso dizer em letras garrafais que
NECESSITO PENSAR EDUCAÇÃO!
Obviamente, é preciso levar em consideração, que o trabalhador docente, tal como toda a classe trabalhadora, é massacrada por um cotidiano extremamente exaustivo, pela
sobrevivência imediata, e também pela falta de perspectivas.
Quantos de nós,
se tivessem oportunidade, neste exato momento, deixariam a sala de aula,
praticando a máxima "o
último a sair apague a luz". Logo, não se trata aqui de devaneios
idealistas de
quem nunca pisou na sala de aula, mas de pensar as probabilidades de
superação desse estranhamento a que estamos submetidos enquanto
profissionais da educação.
Vivemos numa sociedade onde estamos cada vez mais submersos no fetiche da mercadoria, em "coisas" que parecem que nos farão muito felizes... e ninguém, nem mesmo os mais crédulos, têm escapado da "melancolia", dessa maneira, manter a lucidez é questão de
sobrevivência, e sobreviver na educação (ou qualquer outra profissão) é ter que pensar sobre ela como um todo,
refletir, inferir...
O estranhamento, ou a alienação do trabalho é o que
impede, a priori, a classe trabalhadora de se reconhecer. O fato dos trabalhadores da educação participarem de
greves não muda em nada sua situação de trabalhador alienado. O pensar e o
fazer (executar tarefas) estão separados, juntá-los cabe a nós. Claro, que tal como a metáfora de "Matrix", ao tomar a pilula vermelha, assumimos os riscos de tomar ciência do mundo real, o que é irreversível como nos avisa Morfeus, assim, para uma boa parte, terceirizar as decisões que interferem diretamente sobre suas vidas torna a vida, que já é difícil, um tanto mais fácil. Ledo engano...
Essa terceirização, se refere ao fato de nossa participação ser indireta ou praticamente nula nas decisões que dizem respeito ao sistema educacional, incluindo nossa profissão. Assim, delegamos à um ministro ou secretário, para que pense nas políticas educacionais, ou ainda à pesquisadores nas universidades (boa parte, sabemos, sem prática docente na educação básica). E ainda, muitos professores têm convicção que "pagam"
os sindicatos para pensar por "nós", sem perceber que a representação sindical, na maioria das vezes,
limita-se apenas às questões econômicas e discute as políticas de acordo com seus
interesses, há uma limitação histórica dos sindicatos, é preciso analisar. Ou seja, todos "pensam", opinam e decidem sobre o processo educacional, menos a esmagadora maioria dos docentes (isso sem contar a nenhuma participação dos estudantes da educação básica no processo).
Tenho incômodos com nosso sistema educacional que
vão desde a licenciatura (incluindo a que fiz), passando pelo
"oficial" e o "oficioso" do cotidiano escolar, atravessando
os inúteis 200 dias letivos, com sua grade curricular extremamente
fragmentada e não menos inútil, a falta de relação direta entre a
"matéria" dada em aula e o mundo real, o número de alunos por turma, o grau
de insalubridade da profissão... enfim, um todo que uma crônica será pouco para tantas inquietações.
Não abro mão de pensar meu trabalho. Tenho propostas, quero ser ouvida, tentarei me fazer ouvir. Acho que
tenho certa experiência: fui aluna durante 12 anos em 5 escolas estaduais de São
Paulo, estudei em vários horários diferentes, e me lembro de centenas de situações, e sou professora há 10 anos, o que me dão aí uns 22 anos de experiência na educação pública deste país.
Findo essa crônica com mais questionamentos ainda dos que tinha quando a iniciei, mas não menos disposição de modificar a realidade, afinal não não sou apenas professora, mas uma militante pela educação.
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