Doze anos de escravidão e a história do Brasil.

Ao  assistir "Doze anos de Escravidão" não há como não traçar um paralelo com o racismo e o genocídio que vivemos no Brasil, pois, sua história se funde às histórias dos que, ainda hoje, sobrevivem às mazelas dessa sociedade.

A história de Solomon Northup foi a história de cada homem e mulher SEQUESTRADOS EM ÁFRICA. Durante o filme, fui imaginando como eles e elas se sentiram ao serem arrancados de suas casas e famílias pelos traficantes, serem submetidos aos trabalhos forçados dia e noite, aos castigos físicos e psicológicos, serem separados para sempre de seus entes queridos. Quantas crianças ficaram sem pais e mães? Milhões.

Esses homens e mulheres construíram nações inteiras com seu trabalho, os países europeus (Inglaterra, França, Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Alemanha, etc.) se tornaram grandes nações explorando-os e a seus descendentes por gerações! Não se tornaram os países mais poderosos do mundo do nada e nem da noite para o dia. Foi tudo às custas de muito trabalho alheio.

Não consegui pensar em Solomon Northup apenas como um homem livre no norte dos Estados Unidos, mas como um homem livre em África, uma história entre as milhares de histórias de homens e mulheres que tiveram suas identidades roubadas, seus corpos mutilados e suas mentes colonizadas.

Milhões de Solomon Northup foram trazidos para o Brasil, aqui, trabalharam até o último dia de suas vidas, foram humilhados, maltratados e assassinados. Não tornemos a história de Solomon Northup apenas uma história de um único indivíduo, mas a síntese de todas as histórias.

Quando observo no cotidiano da escola, muitos meninos e meninas não se reconhecerem como negros e negras, levei algum tempo para entender que fomos privados de compreender nossa história, nossa ancestralidade na perspectiva de homens e mulheres livres. Apenas nos contam e repetem que descendemos de escravos, nunca nos contam que descendemos de seres humanos livres, que foram sequestrados e escravizados e, que seus filhos e netos foram privados da liberdade.

O racismo é a expressão cotidiana da ignorância, desconhecimento da história e, portanto, da ausência de indignação que este conhecimento pode trazer. No filme, Solomon Northup teve ajuda de um homem menos ignorante que os demais, mas milhares de pessoas não tiveram a mesma sorte. 
Pena ter que afirmar que ainda estamos em guerra contra essa ignorância que mata milhares de pessoas no Brasil e no mundo.