O curta, o canto e uma longa história.

Nos últimos anos pude vivenciar várias experiências com audiovisual. Os cursos de educomunicação fizeram muita diferença na minha formação como professora e, como consequência, na minha prática docente.

Nos cursos aprendi a amar ainda mais a fotografia, aprimorar minha admiração pelo rádio e entendê-lo uma mídia extremamente versátil que se adequou às inovações tecnológicas, e sem dúvida pude viver uma paixão com audiovisual e com a produção de curtas metragens. Fiz muita coisas com os estudantes nos projetos e durante as aulas.

O mais recente curso que participei foi o Minuto Escola, do Festival do Minuto, com o desafio final de criar um curta metragem. Partindo das técnicas, dos filmes minutos assistidos, fiquei pensando numa narrativa que contasse uma história forte, e não deu outra: tinha que ser algo sobre minha mãe, dona Genilda, a quem dediquei o curta

Lembrei de filmes que tenho como referência, cuja história parte da perspectiva de crianças, e pensei em lembranças da infância. Outra referência, foram as narrativas que começam e terminam com um ponto em comum, esse elemento funciona como um coringa. Escrevi num pedaço de papel alguns fatos que conecto no tocante à separação dos meus pais. Fatos esses, que mudaram o curso de nossas vidas (quando digo nossas, me refiro à minha mãe e nós, seus 4 filhos). 

Mas como contar de uma forma leve, algo que foi tão dolorido pra nós? Desenhos? Animações sempre parecem mais leves, e das mãozinhas do Raul, meu filho (11 anos) brotariam os desenhos. Outro elemento importante pra mim: minha mãe cantava muito ouvindo rádio, enquanto trabalhava na máquina de costura. Pensei que um samba daria a liga na história, porque, o outro personagem da narrativa, meu pai, tocava bandeiro. Além disso, os sambas também vinham da vitrola que minha saudosa vó, dona Terezinha, nos deu, e a vitrola foi um dos estopins da separação...  isso na minha perspectiv, e já tinha aí, minha narrativa.

Das coisas que me lembro é um curta sobre uma longa história, uma história que foi da minha mãe, mas poderia ter sido de várias outras mulheres, negras, nas periferias de São Paulo, que trabalham muito, e enquanto trabalham  costumam cantar canções que espantam seus males.