EM MEMÓRIA | Lançamento do livro póstumo do professor e amigo DANIEL ILIRIAN CARVALHO

 Conheci o professor de História Daniel Ilirian em fevereiro de 2015, quando ele chegou à EMEF Duque, mais tarde saberia que a arte desse encontro ocorreu no dia de seu aniversário. 


Apesar de tímido, logo nos aproximamos e conversávamos bastante, à época, eu passava por um momento muito delicado e Daniel foi ótima companhia, e um bom ouvinte. Com o passar do tempo foi se sentindo à vontade para também compartilhar suas histórias. E como era divertido ouvi-lo.


Dani era dono de um bom humor cheio de sarcasmo e piadas infames. Sempre tinha um jargão na ponta da língua, virava e mexia lá vinha ele com um “quem sai aos seus não degenera, Jana!”.


Sem nenhuma arrogância, aos poucos me contou sua trajetória de classe média na capital paulista, dos seus anos de estudo em tradicional colégio de Sampa, da graduação e mestrado na PUC, no qual descobrimos que tivemos o professor Antônio Rago em comum, e como contava feliz das férias em Salvador recheadas de histórias hilárias que viveu com seus amados primos.


Com toda a simplicidade me contou que havia nascido na Albânia, e que isso ocorreu por causa da missão de seus pais, militantes do Partido Comunista do Brasil que foram obrigados, diante das ameaças de morte da ditadura militar a migrarem para o leste europeu. Contava esse fato com muito orgulho deles.


Tive tempo de conhecer ainda seu lado boêmio e gastronômico, de macarrão italiano no Bexiga, passando por lanche árabe no Paraíso, a café no centro velho e sempre com aquela conversa tranquila regada de boas risadas.


 Não lembro quanto tempo levou pra me contar que era poeta, mas assim que eu soube entendi porque Dani não era de reclamar dos dissabores da vida, ele os transformava em poemas.


Lembro ainda que me emprestou o DVD de seu filme favorito, Os Intocáveis de 1987, e era muito fã, assim como eu, da série ontológica, Anos Incríveis, sugeriu, inclusive, exibirmos aos estudantes o episódio “A Quadrilha” que tratava de bullying na escola, tema que lhe era muito caro. Me indicou várias comédias românticas que nos renderam boas reflexões sobre o quão difícil eram os relacionamentos.


Nem preciso dizer o quão apaixonado era pelo Corinthians e que o timão estava com ele diariamente, passeando por todas as conversas, que confesso,  chegava até irritar essa palmeirense não praticante, e sempre comentava que gostava muito de ver os jogos com seu pai. 


O verso da canção de Milton Nascimento diz que “a hora do encontro é também despedida”, e foi justamente na despedida de Dani que pude conhecer seu maior ídolo: seu pai, José Reinaldo, num doloroso abraço na sua inacreditável partida. Um daqueles momentos de perplexidade e revolta, que talvez apenas a poesia possa aliviar, confortar, dar sentido…,  ”, e essa despedida também me proporcionou o encontro com uma das mulheres mais admiráveis que conheço, sua dedicada e protetora mãe, Conceição, hoje minha amiga, a quem estendo essa homenagem, e agradeço por proporcionar esse reencontro com Daniel, agora ele viverá sempre conosco não apenas na saudade e nas lembranças, mas também eternizado em seu livro Melodias da Vida. Daniel, presente!


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