ESTAMOS TODOS DOENTES? | THE WALKING DEAD | SOCIOLOGIA

No primeiro episódio da primeira temporada de The Walking Dead, Rick Grimes acorda num hospital, depois de ter ficado em coma, e o mundo que conheceu não existe mais.

No último episódio dessa mesma temporada ele é informado que toda a humanidade está infectada com um vírus que traz os mortos de volta, e que não há perspectivas de cura. Quem revela isso ao Rick é um cientista do CDC, o Centro de Controle de Doenças dos EUA. Consternado ele só contará ao grupo algum tempo depois, na terceira temporada.
 
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Rick é informado que todos estão contaminados
Nesse ponto da história temos dois grupo distintos: os walkers e os humanos.

Os walkers (ou mortos vivos) já estão em estágio avançado da doença, e não têm mais consciência de quem são ou de quem foram, vivem em função dos instintos mais primitivos da humanidade. Aparentemente são os que oferecem um perigo imediato, mas na verdade são os que estão na condição de maior vulnerabilidade, completamente descartáveis ao sistema estabelecido, e por isso são mortos sem nenhuma cerimônia. 

Os humanos estão divididos em pequenos grupos ou comunidades, que se organizam de formas diversas, numa tentativa de sobreviver em meio a barbárie instaurada. A sociedade em que viviam já não existe mais e, será preciso reorganizá-la.

A série acompanha o grupo de Rick, um ex-assistente de xerife que tenta encontrar uma saída em que a violência seja utilizada como o último recurso. De início, umas das regras estabelecidas é a de que os humanos não devem ser mortos, pois os "walkers" é que são os inimigos em potencial. 

Logo na primeira temporada, temas como o racismo e a violência doméstica são muito bem explorados. As reflexões levantadas sobre o que éramos antes de tudo isso, e o que somos agora, nos fazem refletir como uma mudança repentina do mundo, não traz uma mudança repentina em nós. Logo, Rick assume um papel de liderança, muito embuído de sua condição de autoridade (polícia) numa sociedade que perdeu as referências. 




A segunda temporada é bastante marcada pelo debate da moral, da ética, da democracia e, do papel do Estado na regulação da sociedade. Ainda muito sem saber como proceder diante de uma pandemia desconhecida, alguns do grupo defendem que os "walkers" não devem ser mortos, porque pode ser que se encontre uma cura. Além disso, são seus entes queridos que estão voltando como "mortos vivos", e há sempre uma esperança de poder curá-los. 

O debate sobre a ética e da moral está presente em momentos importantes. Uma das personagens se descobre grávida, e está em dúvida sobre quem seja o pai. O debate sobre o aborto é levantado, a personagem chega a considerar essa escolha como única saída para a situação delicada. Ela está completamente indecisa e, nesse contexto, não tem o apoio de outras mulheres, e muito menos, dos homens, porque, como sempre, outras demandas atropelam as pautas das mulheres na sociedade. Logo, ela vive momentos de angustia e solidão. 

Outro debate vem à tona é quando o primeiro ser humano é capturado, e o grupo tem que decidir o que fazer com ele. Nessa altura, a primeira regra de não matar outros seres humanos é amplamente debatida. Por vários episódios a tortura e a pena de morte entram no debate, e alguns do grupo conclamam que se mantenha uma postura democrática, embasadas na forma de organização do Estado tal como conheciam. Como alguns personagens tentam se furtar em decidir pela vida ou morte do jovem rapaz, colocasse na mesa, a reflexão de que a neutralidade na verdade também é um posicionamento, e que, portanto, não existe neutralidade. 

No decorrer desse processo, o espectador já consegue observar as mudanças psicossociais em alguns personagens, nos trazendo uma reflexão de que para sobreviver no mundo, objetivamente posto, algumas práticas já não se aplicam.

Na terceira temporada, a regra de não matar outros humanos é substituída completamente, pois, outros grupos humanos é que se tornam o perigo em potencial, mostrando que mesmo em situações de extrema crise humanitária, os seres humanos continuam divididos entre interesses coletivos e privados. 

Nos primeiros episódios é revelado à todo o grupo que todos estão infectados, e Rick toma para si a figura de um líder autoritário, numa de suas afirmações ele diz que a "democracia acabou". O personagem não está conseguindo lidar com a traição das pessoas que amava, o que evidencia os efeitos de uma sociedade patriarcal e machista. 

(Texto de Janaína Monteiro)